WHY HAPPY SONGS CAN MAKE ME CRY ON A RAINY DAY?

Um dia chuvoso na cidade do Rio de Janeiro. Uma chuva fina, gelada, insistente que ensopou minhas botas. Hoje, por acaso, caiu em minhas mãos o best seller O Segredo que alguns já me aconselharam a ler. Eu não leio best sellers. Gosto dos livros que poucos leram. Mas fiquei intrigada, na última página, a frase-sentença: “Você não encontrou esse livro por acaso” . E o que tenho a ver com isso? Será destino? O livro explica que tudo na vida se baseia na lei da atração. Pensou, aconteceu. Mas tem que pensar direito, positivo, já vendo e vivendo e sentindo o que se quer como realidade, por mais improvável que pareça. Pensamentos confusos, vida confusa. Então, eu atraí O Segredo? Mas eu já conheço esse segredo há muito tempo. O problema não é atrair, mas reconhecer e assumir o que se quer e seguir o caminho da essência dentre todas as coisas. "Re-conhecer-se" é mais difícil, acho que para a maioria, principalmente os seres dados às fantasias. Por isso, a terapia. Vou escrever um livro: O segredo de O segredo. Acho que na verdade O Segredo não é segredo para ninguém, é só confirmação do que já sabemos pelos caprichos de nossa própria natureza.

Fiquei pensando em O Segredo no meio da rua, enquanto a chuva começava a molhar a barra da minha calça, ouvindo Ella Fitzgerald no ipod (tudo bem, não era um ipod, era um pendrive com menos de 1 giga, mas não é essa a lei do segredo? Estou só atraindo um ipod pra minha vida...rs rs) Os fones doem as orelhas, mas insisto. Vem Ella, depois Elis. Ella e Elis e a trilha segue. E a cidade, a chuva, as pessoas apressadas, o carro azul que quase atropela a moça de casaco amarelo, eu e meu guarda-chuva rosa, tudo vira um grande video clip vivo que eu não sei como vai acabar porque não há uma última canção.

A voz de Ella é um veludo. A de Elis mansidão. Elis encarna veloz As curvas da Estrada de Santos, sucesso jovem guarda de Roberto Carlos. Depois vem no auge da bossa. O piano de Tom Jobim, a voz da inútil paisagem, de quebra, um vocalize gaiato de Tom ao fundo...

Inútil paisagem eu conheci primeiro na versão em inglês - Useless landscape - na voz de Ella Fitzgerald em um álbum onde ela gravou as canções de Tom Jobim - Ella abraça Tom Jobim - e se arrisca cantando também em português as canções Useless Landscape/ Inútil Paisagem e Amor em paz/Once I loved.


There´s no use of a moonlight glow... what´s the use in the waves that will break in the cool of the evening? What is the evening? Without you is nothing...

Mas nada se compara a Elis:


Mas pra quê? Pra que tanto céu? Pra que tanto mar, pra quê? De que servem as ondas que quebram no meio da tarde? De que serve a tarde? Inútil paisagem...

Seria esse o céu de Ipanema?

De que servem as flores que caem pelos caminhos? Se o meu caminho, sozinho, é nada?

Seriam essas as flores do Jardim Botânico?

Não. As flores e o céu são de onde se pode ouvi-los.



E vem Ella. E ouço um veludo azul. Tem que ser azul como o céu da inútil paisagem de Elis e Tom.

Ella canta All of me. Uma canção que conheci na voz de Billie Holiday. All of me com Billie é um lamento. Uma dor sufocante. Com Ella é uma dor livre, quase uma alegria. Ironiza a própria falta:


Come on... why not take all of me? Can´t you see? I ´m no good without you... take my lips I wanna lose them, take my arms I ´ll never use them... Your goodbye left me with eyes that cry.... so why not take all of me?

E ao final brinca nos vocalizes.

É uma celebração. Mas mesmo uma canção alegre pode se tornar triste em um dia de chuva nessa cidade de sempre céu azul e calor de inúteis paisagens.

Foi com Ella que conheci Cole Porter, depois Gershwin, Mercer e os outros grandes da canção americana.

Recentemente adquiri uma caixa com quatro cds, um libreto, em formato A4, com fotos e textos maravilhosos, uma foto de Ella cantando, de perfil, uma gota de suor descendo no rosto. Chego em casa e descubro: falta um cd! Aliás, veio repetido, dois volumes 3! E o 4? Logo o que vinha com Stardust e Stairway to the stars! Não! Não! Não dava pra voltar a loja e trocar, comprei em uma megastore em Montreal. Mando email para a distribuidora da coletânea. Choro minhas mágoas, elogio os canadenses e a bela província... Não me decepcionem! Imploro! Por favor! Cindy responde super simpática e ... um mês depois chega em minha casa uma outra caixa, novinha! O que fazer com a outra? Bem, as duas estão aqui, felizes e lindas. Adoro esses canadenses!

Nessa coletânea, a maioria de gravações que não conhecia. Trechos de shows. Ella reclamando do calor e dizendo: I cant´t be glamorous this way E gargalha depois, aquela gargalhada afinadíssima de Ella Fitzgerald. E canta Stardust... dizendo antes: This is an oldie I hope you like it... e solta aquele veludo até nossos ouvidos.


Sometimes I don´t know why, I spend the lonely nights dreaming of a song. The nightingale tells a fairytale of Paradise where roses grew. Though I dream in vain, in my heart you will remain. The stardust melody, the memory of love refrains...


E eu só consigo dizer: Eu vos amo, senhora!


Depois, na trilha seguinte desse video clip chuvoso, vêm Nara Leão, Orlando Silva, Marisa Monte, Paulinho da Viola, Mercedes Sosa, Música Surda, Fred Astaire, Elizeth Cardoso, Beethoven e Radamés Gnatalli. Mas esses fazem parte de outros dias chuvosos.


E eu fico pensando: haverá algo além da música para assegurar o lugar cativo dessas cantoras no meu afeto?

Talvez esse seja o maior (e o melhor) dos segredos.

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