SEU ARIANO
Difícil não associar a longevidade de um artista brasileiro a uma história de resistência. No caso de Ariano Suassuna, essa associação é importante e óbvia.
Há que resistir, fortemente e com perseverança, para defender e produzir literatura como festa, missão e vocação: " Arte pra mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa".(entrevista à Revista Veja, julho de 1996).
O escritor Ariano Suassuna completa 80 anos de vida neste próximo sábado, 16 de junho de 2007. Se contarmos da idade em que ele publicou pela primeira vez, um poema, contaremos 62 anos de literatura. Literatura dramática, literatura picaresca,literatura cômica, trágica, poética, ou seja, literatura brasileira. Oitenta anos de cultura brasileira, como é bem intitulado o projeto que homenageou o escritor no Rio de Janeiro com palestras, leituras de peças, exposições, adaptação de romance para a TV, e dois encontros com o escritor e seu público carioca, no Teatro Municipal e no auditório do Jornal O Globo, onde estive.
Assisti a Ariano Suassuna no melhor de um homem feliz. Melhor: um menino feliz, cheio de amigos que se reuniram para ouvi-lo contar histórias de si e de outros. Histórias de mentira, de verdade, histórias da nossa picardia. Bonito.
A popularidade midiática do escritor deve-se às diversas produções para TV sobre sua obra, amais recente foi "O Auto da Compadecida" , dirigida por Guel Arraes para a TV Globo. A literatura ainda nao é motivo de grandes mobilizações da mídia... Depois a minissérie foi transformada em filme de cinema e se tornou um enorme sucesso de bilheteria.
Arrisco a dizer que depois disso, Ariano Suassuna se tornou "pop" (acho que ele detestaria essa palavra!). Ganha a TV, ganha nosso quintalzinho do mundo, ganhamos nós -- seus leitores --, ganha a cultura brasileira tão massacrada por influências nem sempre sintetizadas e devoradas antropofagicamente na mesma medida.
Depois da "palestra", penei por 1 hora e 42 minutos em uma fila para falar com ele. Não tinha livro para autografar nem máquina para tirar foto. Ele me deu um autógrafo com a palavra carinho, na minha agenda, no dia do seu aniversário. Eu dei-lhe um beijo, peguei sua mão, e ele me disse: " Obrigada, Andrea!" . Respondi: "De nada.Foi um grande prazer. Obrigada. Espero encontrá-lo em Recife", ou algo parecido. Confesso que ouvi-lo falar meu nome para mim me fez tremer e eu quase disse: "De nada, Seu Ariano, é um prazer..." Fiquei com essa vontade de chamá-lo de Seu Ariano... essa forma menos cerimoniosa, jeito que chamamos alguém próximo do nosso cotidiano, sem invadir muito os limites de uma pessoa.
Seu Ariano nos dará ainda belas palavras e um pouco mais de Brasil.