REFORMAR OS DENTES SERIA MAIS ÚTIL: REFORMA ORTOGRÁFICA PRA QUEM?


E o ACORDO, em desacordo com a vontade de muitos, foi assinado por decreto do presidente Lula. E teremos que, por decreto, abdicar do nosso trema, e dos acentos de "assembléia" e de "idéia"e de "platéia". E aprender e reensinar. Que absurdo.

É a semântica que abriga as maiores diferenças lingüísticas, e não a fonologia. As palavras das diversas Línguas Portuguesas são de significados diversos, muitas vezes dando margem à interpretações equivocadas se não soubermos a sua "tradução". Só queria saber o que está por trás disso tudo, do decreto que reforma o irreformável.

O que é possível reformar é o sistema de estudo, o acesso à cultura e às produções de arte. Acesso aos livros, ao circo, ao teatro, aos concertos - com preços mais acessíveis. Acesso a uma crença de que a escola e o estudo valem a pena. E que a língua é poder pois é meio de expressão para idéias. Reformar uma língua em um país onde a população letrada - mesmo a graduada e a pós-graduada - demonstra enormes dificuldades de expressão escrita é, no mínimo, mais um absurdo. Haveria muito mais a ser feito pela Língua Portuguesa por meio de um decreto.

Reformar os dentes seria mais útil.

Alguns acentos são inúteis, concordo com o professor Pasquale. Mas por que salvaram o de "pôr" e não o de "pára", diferencial da preposição "para"? Qual critério?

A qualquer hora vou ter mesmo que me render e estudar. E arrancar as folhas do capítulo Ortografia das gramáticas que tenho em casa. E os dicionários? Jogá-los-ei-fora! Dicionário não dá para salvar...

Enquanto isso espero pelo decreto que reforme os dentes do Brasil, Portugal, Angola e Moçambique...

Os acentos diferenciais de 'pelo', 'polo' e 'pera' já vão tarde!

O Acordo passou o facão nos acentos diferenciais. Mantiveram-se só os de "pôde" e "pôr". O diferencial de "pôde" é de timbre (fechado, no caso) e distingue "ele pôde" de "ele pode". O circunflexo da forma verbal "pôr" a distingue da preposição homógrafa (átona) "por". Os demais acentos diferenciais foram sumariamente eliminados pelo Acordo. Deixaram de existir as seguintes grafias: "pára" (do verbo "parar"), "pêlo/s" (substantivos), "pélo", "pélas" e "péla" (do verbo "pelar"), "pólo/s", "pôlo/s" e "pêra" (substantivos). Esses acentos se justificavam pelos correspondentes homógrafos átonos: "para" (preposição), "pelo" (combinação de preposição e artigo), "polo" (combinação arcaica de preposição e artigo) e "pera" (preposição arcaica).
Com exceção do acento na forma verbal "para", os demais já vão tarde. O de "para" fará falta em alguns casos. Um título como "Trânsito pesado para Recife" será ambíguo, portanto não deverá ser publicado. Por fim, uma novidade: é opcional o acento em "forma" (sinônimo de "molde"). É isso.

(PASQUALE CIPRO NETO, coluna PASQUALE EXPLICA, 06 janeiro 2009, Folha de SP)

RESUMO DAS NOVAS REGRAS ORTOGRÁFICAS
1 - As paroxítonas terminadas em "o" duplo, por exemplo, não terão mais acento circunflexo. Ao invés de "abençôo", "enjôo" ou "vôo", os brasileiros terão que escrever "abençoo", "enjoo" e "voo".

2 - Não se usará mais o acento circunflexo nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos "crer", "dar", "ler", "ver" e seus decorrentes, ficando correta a grafia "creem", "deem", "leem" e "veem".

3 - Criação de alguns casos de dupla grafia para fazer diferenciação, como o uso do acento agudo na primeira pessoa do plural do pretérito perfeito dos verbos da primeira conjugação, tais como "louvámos" em oposição a "louvamos" e "amámos" em oposição a "amamos".

4 - O trema desaparece completamente. Estará correto escrever "linguiça", "sequência", "frequência" e "quinquênio" ao invés de lingüiça, seqüência, freqüência e qüinqüênio.

5 - O alfabeto deixa de ter 23 letras para ter 26, com a incorporação de "k", "w" e "y".

6 - O acento deixará de ser usado para diferenciar "pára" (verbo) de "para" (preposição).

7 - Haverá eliminação do acento agudo nos ditongos abertos "ei" e "oi"de palavras paroxítonas, como "assembléia", "idéia", "heróica" e "jibóia". O certo será assembleia, ideia, heroica e jiboia.

8 - Em Portugal, desaparecem da língua escrita o "c" e o "p" nas palavras onde ele não é pronunciado, como em "acção", "acto", "adopção" e "baptismo". O certo será ação, ato, adoção e batismo.

9 - Também em Portugal elimina-se o "h" inicial de algumas palavras, como em "húmido", que passará a ser grafado como no Brasil: "úmido".

10 - Portugal mantém o acento agudo no "e" e no "o" tônicos que antecedem m ou n, enquanto o Brasil continua a usar circunflexo nessas palavras: académico/acadêmico, génio/gênio, fenómeno/fenômeno, bónus/bônus.

11. MUDANÇAS NO USO DO HÍFEN

- O hífen não é mais utilizado em palavras formadas de prefixos (ou falsos prefixos) terminados em vogal + palavras iniciadas por "r" ou "s", sendo que essas devem ser dobradas. Ex.: antessala, autorregulamentação.
Obs: Em prefixos terminados por "r", permanece o hífen se a palavra seguinte for iniciada pela mesma letra: hiper-realista.

- O hífen não é mais utilizado em palavras formadas de prefixos (ou falsos prefixos) terminados em vogal + palavras iniciadas por outra vogal , como autoescola. Esta nova regra vai uniformizar algumas exceções já existentes antes: antiaéreo, antiamericano, socioeconômico etc. Obs: Esta regra não se encaixa quando a palavra seguinte iniciar por "h": anti-herói, anti-higiênico, extra-humano, semi-herbáceo etc.

- Agora utiliza-se hífen quando a palavra é formada por um prefixo (ou falso prefixo) terminado em vogal + palavra iniciada pela mesma vogal., como micro-ônibus.Obs: Uma exceção é o prefixo "co". Mesmo se a outra palavra inicia-se com a vogal "o",
NÃO utliza-se hífen.

- Não usamos mais hífen em compostos que, pelo uso, perdeu-se a noção de composição, como em mandachuva.Obs: O uso do hífen permanece em palavras compostas que não contêm elemento de ligação e constituem unidade sintagmática e semântica mantendo acento próprio, bem como naquelas que designam espécies botânicas e zoológicas: ano-luz, azul-escuro, médico-cirurgião, conta-gotas, guarda-chuva, segunda-feira, tenente-coronel, beija-flor, couve-flor, erva-doce, mal-me-quer, bem-te-vi etc.

Guia com as novas regras da ortografia
- um livrinho prático e objetivo, em 32 páginas: Download gratuito aqui (para saber como baixar arquivos do Rapidshare, veja aqui)


MAIS SOBRE A REFORMA ORTOGRÁFICA
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