ASSIS VALENTE

Assis Valente é compositor de melodias admiráveis e populares, um grande nome na música popular brasileira. Sambas deliciosos, crônicas de falares e casos de sua época, histórias de amor desencontrado, tudo na melodia e temática de um bom samba. Ouve-se e de primeira fica na memória.

O compositor é conterrâneo de Caetano Veloso, nasceu em 19 de março de 1911, em Santo Amaro, na Bahia. Trabalhava como protético na Glória, era amigo de malandros como Madame Satã. Morreu em 1958, sentado em um banco de praça. Entre uma data e outra muito samba bom. Muita beleza, magnitude. Assis Valente era um gênio, somente ele não sabia disso. Mas quem ouve Assis Valente sabe.

E por que nos apaixonamos por suas canções? Uma certa dose de poesia vem à tona para entender a obra de Assis Valente. Talvez depressivo, talvez carente demais devido a uma infância calcada no abandono; talvez inocente, complicado, cheio de dívidas, com mulher e filha pra sustentar mas... um gênio poético raro. Parece mesmo que ninguém perdoa os suicidas.

Nos sambas, se confessava. Dizem que há nesse uma certa revelação do homossexualismo do compositor:

Eu gosto muito mais do outro lado
Do lado claro de minha rua
Prefiro então o velho muro
Porque de lá se vê a lua
E nesse coração abandonado
Meu lindo sonho
Igual trovador
Debruça na muralha do passado
Para rever o nosso amor
(Gosto mais do outro lado, 1934)

Mas isso não faz a menor diferença. 

Carmen Miranda foi grande amiga e divulgadora da obra do baiano tendo gravado Camisa Listrada, Uva de Caminhão, Minha Embaixada Chegou, E o Mundo não se Acabou. Até que Assis compôs “Brasil Pandeiro” para Carmen, Mas a cantora,  que já estava nos Estados Unidos, negou-se a gravar a canção dizendo ao compositor que a música “ não prestava”. Esse fato foi de extrema decepção para Valente. Carmen estava errada, é claro. A música fez sucesso depois com os Anjos do Inferno. Mas talvez seja mais conhecida com a interpretação de Baby Consuelo, Novos Baianos, década de 1970:

Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor
Eu fui à Penha e pedi à padroeira para me ajudar
Salve o Morro do Vintém, Pendura a Saia que eu quero ver
Eu quero ver o Tio Sam tocar pandeiro para o mundo sambar
O Tio Sam está querendo conhecer a nossa batucada
Anda dizendo que o molho da baiana melhorou seu prato
Vai entrar no cuscuz, acarajé e abará
Na Casa Branca já dançou a batucada de Ioiô e Iaiá
Brasil, esquentai vossos pandeiros, iluminai os terreiros
Que nós queremos sambar
Há quem sambe diferente, noutras terras, outra gente
Um batuque de matar
Batucada, reuni vossos valores, pastorinhas e cantores
Expressões que não tem par, oh meu Brasil, Brasil
Brasil, esquentai vossos pandeiros, iluminai os terreiros
Que nós queremos sambar

As referências ao Tio Sam que já ouviu nossa batucada é explícita à Carmen Miranda.

Hoje em dia, nas festas de Natal de escola infantil, é fácil encontrar aquele bando de crianças com o chapéu vermelho de barra branca e pom-pom nas mãos cantando em coro a música de natal mais triste que existe. E se torna um paroxismo absurdo, aquelas crianças alegres entoando "Boas festas" de Assis Valente:

Anoiteceu, o sino gemeu
E a gente ficou feliz a rezar
Papai Noel, vê se você tem
A felicidade pra você me dar

Eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel
E assim felicidade
Eu pensei que fosse uma
Brincadeira de papel

Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem


É a canção de natal mais triste que existe. Só podia ser de Assis, essa contradição entre alegria e melancolia, dos sambas até a sua própria vida. 



PARA CONHECER
Primeiro LP de Marlene, só com Assis Valente
http://rs30.rapidshare.com/files/12135984/MARLENE.zip
clicar em FREE – esperar a contagem de segundos – digitar o código que aparece – depois clicar em download ao lado - salvar como...

Postagens mais visitadas