MADAME STOLTZ!
Stoltz por Nadar |
UM personagem de enigmático furor que passou pelos palcos brasileiros no século XIX : a cantora lírica Rosina Stoltz!
Madame Stoltz foi celebrada, aplaudida, amada e odiada. Paixão secreta de João Caetano que, já casado com a atriz Estela Sezefreda, andou se rendendo aos encantos da Diva que D. Pedro II mandou vir de Paris. Mas quem não se rendeu?
Em 1852, Augusta Candiani e Rosina Stoltz protagonizaram um encontro artístico singular. O teatro e a cidade receberam Rosina Stoltz em um.momento de retomada de atividades pelo surto de febre amarela e o incêndio do Teatro São Pedro de Alcantara em 16 de agosto de 1851.
Stoltz esteve no Brasil em 1852 e 1859. Sua presença foi bastante reverenciada pelos folhetinistas que assinalavam a comoção e a renovação que a presença de Madame Stoltz promovia na cena lírica.
Silverio Corvisieri descreveu a cantora como “personagem de exceção, quarentona, diva por antonomásia, genial, caprichosa, bissexual, generosa e mesquinha segundo os humores do momento, autoritária, passional, desinibida, dominara durante nove anos a cena na ópera de Paris, criando muitos inimigos”. Essa celebridade polêmica, portanto, envolvida em histórias e episódios pitorescos durante sua estada na cidade, cantou com Candiani a ópera Semíramis, de Rossini. As duas divas juntas, um verdadeiro triunfo, segundo Vicenzo Chernichiaro: “Le due celebrità consorelle dell’arte, due potenti talenti, riscossero a vicenda i piú deliranti applausi che si possano immaginari. E dicasi il vero, questa reppresentazione rimaneva nel ricordo del público come una rara rivelazione, un effluvio inebriante e, per le due dive, un vero trionfo”.
Em meio a ovações do público, Candiani ofereceu à Stoltz uma coroa de penas de pássaros brasileiros, dirigindo-se em português à cantora francesa. Nesse gesto de coroação de uma celebridade estrangeira, a cantora italiana representara o Cicerone da cena lírica brasileira; efetivando um simbólico compromisso de afeto ao Brasil.
A história mais pitoresca de que temos registro é narrada por Silverio Corvisieri na biografia da bailarina Marietta Baderna. Refere-se à revelação pública sobre o bissexualismo de Stoltz.
Certa noite, a cantora francesa encontrou sua amante, a cantora Serini, na casa do tenor Labocetta, em situação comprometedora. Agredindo a jovem traidora, a soprano não se limitou a tapas e arranhões escandalosamente pelas ruas e, pegando um bastão, passou a golpear Serini violentamente.
Stoltz envolveu-se também em constantes polêmicas: brigas com a imprensa, com funcionários do teatro, com o público (por querer transferir para o final das óperas os espetáculos de dança que eram apresentados nos intervalos). Oito meses depois de sua chegada, parte de volta à Europa em dezembro de 1852, com 270 mil francos na bagagem, uma fortuna.
Essa era a Madame Stoltz... celebrada, amada, odiada, contraditória, ousada, como convém a uma Diva.