DESEJO DE FESTA

Meu aniversário está chegando, será numa terça, dia de trabalhos e compromissos diversos da rotina. É impossível uma pessoa minimamente sã não pensar que o dia de seu aniversário tem que ser, porque tem que ser, um dia diferente.

Mas o que vou fazer nesse dia de terça? Espero que não chova. Chuvas são comuns no mês de agosto.
Talvez ,  eu tome vinho com algum amigo querido, ou com alguns amigos queridos, não sei ainda, estarão todos trabalhando também, e não tenho amigos queridos e próximos que cheguem a contar os dedos das mãos. Provavelmente, tomarei meu vinho sozinha. O certo mesmo é que mais ao final do dia estarei com a família e a alegria que eles imprimem dá calma e tranquilidade às minhas paisagens nubladas.

O dia de aniversário é quando pessoas se lembram de nós, ou esperamos certas pessoas se lembrarem de nós. Ninguém quer ser esquecido, mas ao mesmo tempo é difícil esquecer.


Mas o dia do meu aniversário não é necessariamente tranquilo, há uma certa tensão em mim com o tempo que passa e eu não acompanho. Impossível não avaliar, pesar, tentar ver sua própria vida do lado de fora, com o rigor de uma narrativa, pegando da literatura as possibilidades de desfechos e conclusões. Deparo-me com medos. Acho que essa sensação é comum depois de uma certa idade, mas para mim é comum desde sempre. È como se deparar com aquele moço que corre muito rápido e não o alcançamos, desmaiamos na corrida antes da linha de chegada. O tempo chega sempre primeiro, como um maratonista talentoso. Os dias de meu aniversário têm sido dias de uma certa vertigem.


Gostaria de  lembrar dos meus aniversários de infância, das festas e do bolo. Só me lembro das imagens que vi em fotografias. Mas queria saber se havia expectativa e ansiedades imensas, talvez assim me convencesse de que a vida é mais simples, e que o moço da maratona é só um exibicionista bobo.

Queria que no dia do meu aniversário eu descobrisse coisas importantes, como uma nova terra. Uma sorte. Queria começar coisas novas, desacreditando no moço maratonista, esquecendo repertórios de neuroses e decepções, reinventando um enredo. Talvez fique sentada escrevendo como estou agora, netbook no colo e Fred Astaire cantando Night and Day. Ou seja, nada novo. Por que é difícil mover-se?

Talvez eu compre roupas e sapatos novos, talvez eu vá ao Cristo Redentor ou à Ilha Fiscal. Talvez não faça nada disso pois só em  pensar o que fazer me exaure.



Quero um desejo de festa, talvez momentos de silêncio e meditação, talvez descobrir como se faz para se ter menos "talvez " no próximo ano. Por enquanto a minha única certeza é doce: vou ter o bolo de chocolate com baba de moça que já encomendei.




Postagens mais visitadas