CAIO E HELIO E A PUREZA É UM MITO NA NAVILOUCA



Essa semana, o folhetinista quase pegou seu chapéu, sua casaca, bengala e monóculos, e saiu novamente pela porta de trás que o leva a tempos pretéritos. Pois os sinistros do tempo presente fizeram com que ele desejasse voltar para os dias do Marques do Paraná e das divas da ópera do Teatro São Pedro de Alcântara.


Ironicamente, tudo começou com uma bela festa. Antes da tempestade sempre vem a bonança, diz um dito. A festa que levou ao público a quarta edição da revista de artes Santa Art Magazine estava supimpa. A chuva fina não assustou os leitores, os visionários, os artistas que se aglomeravam nos corredores dos nobres salões do Parque Lage na noite de 16 de outubro de 2009. Ao redor da piscina tudo ficou livre, e as luzes e o escuro fizeram uma inovação na noite, embalada pelo DJ de plantão. Era uma festa, não um lançamento. Uma surpresa, mas bem característica do espirito da revista, cheia de inusitadas obras e nomes novos e mais a chancela da Magnum agência de fotografia. Prezados, a Santa chegou e criou seu espaço, e isso é mais do que ocupá-lo.


Na mesma noite, uma ocorrência que desafia qualquer razão. A perda da obra do artista Helio Oiticica. Vale uma interpretação hermenêutica? Política? Espírita? Junguiana? Como entender? Era uma resposta a tanto "vai e vem" nas relações entre herdeiros e poder público? Faltou dinheiro? Ou Hélio, de onde quer que esteja, se cansou e resolveu tomar a frente das negociações?


Fato é que lemos incrédulos a notícia. Não era possível, aquela obra que conhecemos tão de perto, um incêndio a levou, e no mesmo momento da chuva, no mesmo momento da festa da Santa, no mesmo Jardim Botânico.


Outro sinistro é o assassinato do acrobata da Intrépida Trupe, Caio Guimarães, tão jovem, tão arte. Não o conhecemos além das intrépidas trupes, mas para que mais? O lamento e o espanto são os mesmos. Mais uma notícia a desafiar a  nossa credulidade, no acaso, nas energias, nas religiôes. 


A morte da obra "material" de Hélio e a morte "material" de Caio, ambos em sua linguagem.


Esse breve folhetim é para ambos, em homenagem.


Em novembro de 1971,Torquato Neto – o poeta da mesma navilouca que nós - escreveu a Hélio Oiticica: "A paranóia, com perdão da palavra, grassa nos altos círculos (...) Ninguém sabe o que fazer, porque a sufocação só deixa pensar em dar no pé".


É isso. Situando o trecho em nossos dias, a vontade de dar no pé é a mesma.











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