A MEMÓRIA DO BARÃO LANGSDORFF

GEORG HEINRICH VON LANGSDORFF (1774-1852) aos 23 anos de idade era um rapaz interessado em ciência e descobertas que já havia até defendido uma tese sobre obstetrícia na Prussia, seu país natal. Depois foi buscar outros rumos. 

Acabou parando na Rússia, interessado no apoio e interessse que o Czar Alexandre I tinha por expedições científicas. Sim, Langsdorff queria participar de uma, e conseguiu quando foi nomeado cônsul-geral da Rússia no Brasil de D Pedro I. 

Já Barão, Langsdorff chegou ao Rio de Janeiro em 1813 para uma expedição científica patrocinada pelo governo russo. Se apaixonou pelo Brasil, sua natureza e sua gente. Depois se juntou a ele um francês: ANTOINE HERCULE ROMUALD FLORENCE ou Hércules Florence, um jovem de 20 anos, promissor desenhista e pintor nascido em Nice, França. De 1825 a 1829 a expedição com objetivos científicos viajou pelos rios Porto Feliz (Rio Tietê) até Belém (Rio Amazonas),pesquisando vilarejos, vilas, cidades e indígenas nas Províncias de São Paulo, Mato Grosso e Pará. A expedição  Langsdorff produziu importante registro iconográfico além de relatos sobre o Brasil nesses tempos inaugurais de nossa cultura.

Hércules Florence chegou ao Brasil em 1824. Dizem que quando era caixeiro de uma loja comercial viu um anúncio do Barão de Langsdorff procurando um desenhista para sua expedição. Conseguiu se juntar aos outros da equipe: Johann Moritz Rugendas e também Adrien Taunay, que morreu afogado em uma dessas viagens. 

Depois ficou por aqui, mais precisamente em Vila de São Carlos (atual Campinas, São Paulo), a partir de 1830. E 1832, inventou a fotografia, três anos antes de Daguerre.

Mas como foi isso?

Florence, pesquisando um sistema de reprodução de imagem, inventou um meio de  imprimir simultaneamente todas as cores primárias. A poligrafia imprimia e reproduzia imagens no mesmo processo do mimeógrafo. Depois ele descobriu um processo de gravação através da luz, que batizou de "fotografia" em agosto de 1832, três anos antes do francês Daguerre fazer o mesmo. Mas seu processo era bem mais eficiente, dizem os estudiosos. Em 1833, inventou uma câmera fotográfica utilizando uma chapa de vidro em uma câmera escura, cuja imagem era passada por contato para um papel sensibilizado. Foi pioneiro no uso da técnica de negativo-positivo. E usava urina, rica em amônia, como fixador -- assim escreve em seu diário. 

Mas quando descobriu as pesquisas de Daguerre na França, Florence se desmotivou e abandonou as suas. Mais de um século depois, seu pioneirismo foi reconhecido e comprovado pelo historiador BORIS KOSSOY em 1976 no Rochester Institute of Technology, nos Estados Unidos. 

E Daguerre parece que ganhou a maior fama até hoje...

Hércules Florence casou-se duas vezes, ambas no Brasil, teve 20 filhos, e foi também dono de loja de tecido e tipógrafo. Faleceu em Campinas em 1879.

Já o Barão escolheu se fixar no Rio de Janeiro. No último ano de expedição, Langsdorff perdeu completamente a razão como consequência de inúmeros contágios por malária que sofreu durante as viagens. Voltou à Europa e faleceu em 1852, em Freinburg, Alemanha, sem nunca ter recuperado a razão e a memória.

Ironicamente, o "inventor" da expedição que encheu o nosso primeiro baú de memória, através de imagens e palavras, morreu se esquecendo de tudo.

MAS AGORA... a memória de Langsdorff pode ser encontrada através dos desenhos de Hércules Florence que estão disponíveis na 

Pinacoteca do Estado de São Paulo (Praça da Luz, 2, 3324-1000) das 10 h às 18 h (fecha 2.ª) por R$ 6 (sáb., grátis). A exposição Hércules Florence e o Brasil fica aberta ao público até o dia 14 de março de 2010.

Bela história desses viajantes... por que não se faz um filme com isso?


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