O RISO

Estava procurando um livro antigo sobre teatro no site da Brasiliana – Biblioteca online Guita e José Midlin –  quando me deparo com O RISO - Semanário artístico e humorístico, de 1912, publicado no Rio de Janeiro.



É a PLAYBOY dos nossos BISAVÓS? Por aí.
Ou melhor. Muito melhor.
ADOREI.

O RISO era editado por Rebello Braga e circulou em 1911 e 1912 no Rio de Janeiro, em pleno governo do Marechal Hermes da Fonseca. Fez a alegria de muita gente da Belle époque carioca.




Não tinha pudores de ir da sátira á crítica direta ao governo do marechal. Legado à marginalidade, inaugurava um lugar em que se podia falar aquelas verdades que deveriam ser encobertas, política E socialmente.

Tempo em que a pornografia era um discurso eficaz.

São vários os gêneros que aparecem em O RISO. Do romance folhetim francês – como o “Supremo abraço, romance d´amor” do já conhecido autor pornográfico Victorien du Saussay – a crônicas, notas sobre teatro e literatura, poesias satíricas e de amor, anúncios de dentista e de pílulas milagrosas para manter a energia do corpo, tudo ilustrado pelos desenhos e as fotos das mulheres em preto e branco, lânguidas em uma cadeira, em meio a cobertas, em pé, algo selvagem e etéreo ao mesmo tempo, inocente, ou meio como as ninfas das pinturas do romantismo. Todas muito brancas e de pernas e cinturas grossas.






PRA VER uma das edições de O RISO basta clicar aqui:
https://digital.bbm.usp.br/bitstream/bbm/6812/2/Anno.1_n.01_45000033174_Output.o.pdf


Segue abaixo uma das crônicas que aparece em O RISO e que me fez rir ao final. O texto está reproduzido seguindo a ortografia original de 1912.


“Eu tinha a illusão premiciana dos coup de fondre e deixei-me ficar á espera dos seus effeitos. Um bello dia, estava eu em casa, quando me surge a mulher de um Sr. X, que eu conhecia desde pouco e em cuja casa jantara uma vez. As nossas relações eram criminosas e, se nos encontrávamos na rua, trocávamos bons cumprimentos. Fiquei assombrado, tanto mais que ella chegou, quasi não me falou e sentou-se a chorar nervosamente. Quando pôde falar, disse-me que tivera questão com o marido, que elle era um bruto, um selvagem, não sabia amar e me pedia que eu lhe arranjasse um amante.

— Interessante.— Quiz dissuadil-a cavalheirosamente; ella, porém, insistiu. Precisava, queria... Eu sacolegei a memória e fui propondo os amigos que conhecia e eram também das suas relações. A todos ella punha uma objecção. Ainda fantasiei conhecimentos com poetas, jornalistas e deputados; ella, porém, não os queria e fazia delles o peior juizo deste mundo. Um era bêbedo, o outro chantagista, e assim por diante. Então, minha senhora — disse-lhe eu muito respeitosamente—não lhe posso servir.

Ella ergueu-se e, rísonha, perguntou ainda: Então, não me pode servir ? Respondi afirmativamente. Despediu-se e foi descendo a escada. Quando ia em meio, lembrei-me, ou melhor, a lucidez me veiu. Sou eu quem ella quer.  Corri á janella - e chamei-a; ella voltou-se e quasi já na porta da rua respondeu: Meu amigo; já sei qué não me pode servir. Adeus.

— Que fim levou essa dama?
— Anda por ahi. Tem-me um ódio de morte.
*
Fim.






Andrea Carvalho Stark, set 2011 

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